Memória Cinematográfica

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Coisas que Perdemos Pelo Caminho

Estreia 4 janeiro 2008

É inevitável não fazer uma lista quando se vê um filme como “Coisas que Perdemos Pelo Caminho” (“Things We Lost in the Fire”). Isso porque o longa-metragem, que estréia dia 4, é capaz de mexer com o espectador, principalmente quando atinge o lado emocional de cada um. E isso é muito simples. Simples e não piegas, é preciso dizer, uma vez que a fita conta com interpretações ímpares de atores que mergulham em seus personagens de cabeça e tem uma direção intimista da dinamarquesa Susanne Bier, a mesma do ótimo “Depois do Casamento“, em sua estréia no cinema norte-americano.

O longa inicia-se com o funeral de Brian (David Duchovny) e sua família se preparando para prestar as últimas homenagens a ele. A causa da morte, porém, só é mostrada mais adiante. Sua esposa, Audrey (Halle Berry, de “X-Men“), tenta consolar os filhos de seis e 10 anos. Antes de terminar, a moça lembra-se de avisar o melhor amigo do marido, Jerry (Benicio Del Toro, de “21 Gramas”).

Com roteiro original escrito pelo estreante no cinema Allan Loeb, a fita começa a mostrar a história de Brian, os dias em que passou com Jerry e ao lado dos filhos e da esposa. Deste modo, o espectador começa a se apegar e a se envolver com o drama. A direção de fotografia ficou a cargo de Tom Stern, que se aproveita da luz e da sombra para apontar suas lentes a uma história comovente e singela.

A câmera, por sua vez, faz um trabalho de alternância, pois ora está na mão, ora no tripé, conferindo ritmo e dinâmica ao filme. Outro destaque fica para a montagem, principalmente no início, quando há idas e vindas no tempo de maneira sutil.

O personagem de Del Toro é viciado em drogas e cheio de problemas decorrentes do vício, e ele consegue mostrar, por intermédio de sua interpretação, as oscilações pelas quais ele passa durante todo o filme. Para viver Jerry, o ator pesquisou o comportamento de viciados, freqüentou reuniões de Narcóticos Anônimos, para dar realidade ao personagem.

Outro ganho, desta vez vindo de Halle Berry, é a transformação que ela sofre quando perde o amor de sua vida. E embora no começo ela tente mostrar a mãe forte que só pensa em proteger os filhos, no decorrer da fita essa armadura vai caindo, de modo que parece real, pois mostra que é humana, tem sentimentos e sofre. Em uma determinada passagem, aliás, Halle deixa de lado a mãe equilibrada para mostrar suas verdadeiras emoções.

“Coisas que Perdemos pelo Caminho” discute, poeticamente, a morte e como se reestruturar após ser “atropelado” por ela. Fala também de recuperação e amizade, perda e renascimento. Tudo junto, de maneira singular e arrebatadoramente emocionante.

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