Memória Cinematográfica

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Humor e drama juntos

Entrevista 20 dezembro 2007

Por conta do lançamento do longa-metragem “Meu Nome não é Johnny“, foi realizada coletiva de imprensa com o elenco do filme na tarde segunda-feira, dia 10 de dezembro, em São Paulo.

Na ocasião, o ator Selton Mello, que interpreta o protagonista, disse que esta é a primeira vez que faz um personagem que está ao seu lado. Isso porque a fita é baseada em livro escrito por Guilherme Fiúza, lançado em 2004.

O livro, aliás, é sobre a vida real de João Estrella, um traficante de cocaína de classe média do Rio de Janeiro.

Embora seja uma história real, Selton conta que não teve contato com João para a construção de seu personagem. No entanto, ele encontrou muita gente que conhecia João.

“Então, construí o meu João”, informa o ator. Selton lembra que não queria “ficar sugando o João e ele entendeu que era um personagem”.
Também presente à coletiva, o verdadeiro João Estrella, hoje músico e compositor, conta que o roteiro do filme, escrito pelo também diretor Mauro Lima, é um pedaço do livro.

“Me identifico muito com o filme. O humor que Selton tem é real, me vejo muito no personagem que ele criou”, atesta. Ele conta que Mariza Leão, a produtora do longa, e Mauro Lima respeitaram muito as partes que tratam particularmente da sua família.

Embora não tenha participado do filme como um todo, João destaca a cena do tribunal em que participou da ambientação. Selton Mello, aliás, conta sobre como foi a filmagem desta cena especificamente.

“Eu não estudei essa cena e me encontrei com o João antes de filmar. Ele me contou com as suas palavras como aconteceu. A cena tem um frescor que eu acho lindo, porque eu fui vivendo aquele momento e contei com as minhas palavras o que eu tinha ouvido na sala ao lado”, diz.

Na mesma cena, Júlia Lemmertz, que viveu a mãe de João na tela, diz que deixou se levar pela situação. “Sou mãe também, mas tive um breve contato com a mãe de João. Para mim, aquele momento foi único e revelador.”

Para construir a juíza que dá a sentença a João, Cássia Kiss conta que assistiu a uns 15 julgamentos ao lado de uma juíza. “Vi como ela agia com imparcialidade. No entanto, a minha juíza, em certo momento, foi parcial.”

João Estrella também participou do filme com a composição de uma das canções que faz parte da trilha sonora. A canção “Para onde se vai” é a que será trabalhada no lançamento de seu CD.

O longa-metragem, que demorou dois anos e meio para ficar pronto, teve cerca de oito tratamentos para o roteiro.

“Quem me indicou o nome do Mauro Lima foi o Marcelo Rubens Paiva, que disse que ele escrevia muito bem. Quando ele aceitou, começamos de novo”, comenta a produtora. Sobre a escolha de Selton Mello para o papel, Mariza diz que a combinação de drama e humor tem tudo a ver com ele.

Além de ter sido feito no Rio de Janeiro, o longa também foi filmado em Barcelona, na Espanha, e em Veneza, na Itália. “Filmar na Europa foi simples, tínhamos uma equipe enxuta lá e deu certo”, conta Mariza, acrescentando que o filme tem 62 locações.

Com lançamento apontado para o dia 4 de janeiro, “Meu Nome não é Johnny” terá, por enquanto, 100 cópias (o que é considerado razoável para uma produção nacional). Segundo pesquisa realizada pela equipe em sessões em universidades e escolas, o filme não tem rejeição. A censura 14 anos mostra que é indicado aos adolescentes e também para os adultos.

No vácuo de “Tropa de Elite”, longa de João Padilha que discute sobre o tráfico no morro carioca e a ação da polícia contra esses traficantes, “Meu Nome não é Johnny” não foca a violência. Ao contrário. É um longa que fala de recuperação, de um jovem que “se perdeu na vida” e depois encontrou o caminho da “cura”.

Embora as pessoas possam achar que o longa seja uma fantasia, João faz questão de enfatizar que tudo o que está na tela aconteceu de verdade, inclusive a personagem vivida por Eva Todor. “Quando eu conheci a dona Marly, ela era uma avó que tinha alugado um apartamento em Copacabana com vista para o mar. Ela faleceu ali, mas me chamava para tomar chazinho e eu chegava lá pilhado, só queria pegar a droga e levar para os meus clientes, e ela ficava lá me dando conselho”, recorda-se.

Mauro Lima conta que mudou um pouco a personagem, quando mostra a tal velhinha vendendo ambrosia. “Tinha nos anos 1990 uma velhinha que ficou famosa por vender droga e quindim no Rio de Janeiro e eu aproveitei a história”, diverte-se, acrescentando que não eram os jovens que vendiam drogas, mas senhoras da classe média.

A produção de “Meu Nome não é Johnny” consumiu R$ 5,5 milhões e oito semanas e meia de filmagem, incluindo as cenas da Europa. Segundo Mauro, o clima no set era prazeroso. “Eu não consigo entender a imagem de um diretor que berra e se descabela. Quando se tem uma equipe boa, se tem um problema, fica fácil resolver.” E Selton arremata: “O clima era bom porque tínhamos um livro bom, estava tudo certo e era só fazer um filme. Todo o grupo reunido era muito bom”.

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