Dificilmente o espectador vai sair da sala do cinema da mesma maneira que entrou, após assistir ao longa-metragem “A Caça” (“The Hunt”). Dirigido pelo dinamarquês Thomas Vinterberg, o filme conta uma história ímpar sobre como um mal-entendido (ou, quiçá, uma mentira), pode dar diferentes rumos à vida de uma pessoa, principalmente levando para o lado negativo.
Lucas (vivido por Mads Mikkelsen, premiado como Melhor Ator no Festival de Cannes no ano passado) acaba de se divorciar e tenta refazer a sua vida trabalhando em uma escola infantil perto de sua casa, localizada em uma pequena cidade no interior da Dinamarca. Refazer a vida, no caso de Lucas, significa dar certo com a sua nova namorada, ter um novo emprego e restabelecer a relação com o filho adolescente, Marcus.
Como em toda cidade pequena, a vizinhança toda se conhece. Se isso tem um lado bom (nunca se está sozinho, por exemplo), há o lado ruim: as notícias se espalham como fogo em palheiro, independentemente se a versão é verdadeira ou não.
No caso de “A Caça”, o fato de a vizinhança se conhecer é bastante prejudicial ao personagem central, uma vez que ele é vítima de fofoca e precisa lutar com todas as suas forças e métodos para provar a sua inocência.
A fofoca, no caso, tem relação à pedofilia, assunto que sempre está presente nos noticiários. Vale lembrar dos casos envolvendo a Igreja, mas também o maior dos últimos anos, envolvendo a Escola Base – aqui, porém, o mal-entendido se desfez depois de prejudicar diversas famílias.
Vinterberg, que nos anos 1990 participou, ao lado de Lars von Trier, do manifesto Dogma 95 (que determinava algumas regras na direção, como proibição de truques e filtros e câmera na mão), é coautor do roteiro e assume uma direção bem-sucedida, que envolve o espectador e extrai do ator, que esteve recentemente em cartaz no longa-metragem “O Amante da Rainha”, o melhor de sua representação, mostrando a tensão de ser acusado e a vontade de querer reconquistar o filho.
“A Caça”, que esteve na programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2012, é uma boa oportunidade não apenas de se aproximar da gelada cultura dinamarquesa, mas também de refletir sobre do que as palavras soltas e a boa educação dos filhos podem ser capazes de fazer.