Há filmes que eu simplesmente cismo. Gosto de ver várias vezes. Para os clássicos, por exemplo, não é preciso de desculpa para revê-los, seja “Cantando na Chuva”, “Casablanca”, os filmes de Charles Chaplin, seja “O Poderoso Chefão”, ou qualquer um antigo de Woody Allen ou Alfred Hitchcock e por aí vai. Mas há filmes que cismo e depende da fase da vida. Já teve a época do musical “Grease – Nos Tempos da Brilhantina”, “Top Gun – Asas Indomáveis” ou outros de “mulherzinha”, como “O Diário de Bridget Jones” e até mesmo “Uma Linda Mulher”.
“Alta Fidelidade” (“High Fidelity”), porém, é um dos que, vira e mexe, me chama para revê-lo. Não sei exatamente o que tem aquele filme que me prende, se é a história como um todo (já que li o livro duas vezes) ou a trilha sonora em conjunto com os “Top Five” do protagonista, que me fazem pensar como eu faria naquele dia etc., ou as performances de Jack Black e John Cusack, ou se é tudo junto.
Há duas semanas revi o longa-metragem dirigido pelo britânico Stephen Frears e logo depois descobri que a Cinemateca Brasileira faria um festival só com os filmes dele. Até 4 de agosto, podem ser vistos “A Rainha”, “Liam”, “A Grande Família”, “Minha Adorável Lavanderia”, “Chéri”, “Sra. Henderson Apresenta”, “O Segredo de Mary Reilly”, “O Retorno de Tamara”, “Os Imorais” e, claro, “Alta Fidelidade”. Daí me deu vontade de escrever este post.
Alta Fidelidade
O longa-metragem, lançado em 2000, conta a história de Rob Gordon (John Cusack), dono de uma loja de música à beira da falência, que apenas vende discos em vinil no subúrbio da cidade onde vive. E é depois de levar o fora da namorada, Laura (Iben Hjejle), que ele começa a enumerar os cinco piores foras que já tomou na vida.
Assim, faz uma retrospectiva sobre as dores de amor e os típicos problemas da idade, já que tem quase 30 anos e não acha que é momento de se casar e ter apenas uma mulher. Pensa na fantasia, quer variar. Na sequência, começa a listar músicas e álbuns em diversas ocasiões, principalmente ao lado dos seus dois funcionários, Barry (Jack Black, impagável!) e Dick (Todd Louiso), dois nerds que só pensam em música e trabalham na loja muito mais por prazer do que por dinheiro. O personagem usa frases de efeito, trata sobre ciúme, da própria masculinidade e da vaidade, quando descobre que foi traído pela namorada, mas ela que o cara ainda não transaram.
Logo no início, ele manda: “What came first, the music or the misery? People worry about kids playing with guns, or watching violent videos, that some sort of culture of violence will take them over. Nobody worries about kids listening to thousands, literally thousands of songs about heartbreak, rejection, pain, misery and loss. Did I listen to pop music because I was miserable? Or was I miserable because I listened to pop music?” Genial!
Além da atual ex-namorada, Laura, desfilam pela tela outras ex, já que Rob quer saber o que deu errado, como Charlie Nicholson, vivida pela bela Catherine Zeta-Jones.
A fita traça um panorama da vida de Rob e a trilha sonora da sua vida. Em muitas passagens, aliás, é fácil para o espectador transportar as neuroses e os problemas que enfrenta no amor e na profissão apresentados na tela, para a sua própria vida. Empatia que poucos filmes são capazes de fazer, principalmente depois de resistir ao tempo. Afinal de contas, o longa, que teria tudo para ser uma comédia romântica piegas e convencional, se tornou um clássico cult.