Memória Cinematográfica

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Amor e Outras Drogas

Estreia Globo de Ouro 31 janeiro 2011

Sabe quando você está no consultório médico à espera do atendimento e sai da sala do especialista um homem ou uma mulher com uma malinha? Trata-se de um representante de alguma indústria farmacêutica, que vai apresentar ao profissional seu lançamento para que ele conheça e, claro, receite o tal medicamento.

“Amor e Outras Drogas” (“Love and Other Drugs”) fala um pouco sobre esse universo (indústria farmacêutica), mas também do relacionamento que acontece entre um desses representantes e uma artista, que, aos vinte e poucos anos, sofre de Parkinson.

Na trama, quem vive os personagens é Jake Gyllenhaal (de “O Segredo de Brokeback Mountain”) e Anne Hathaway (de “O Diabo Veste Prada”). Os dois, aliás, já estiveram juntos no primeiro filme, mas não eram o centro das atenções, tal como são aqui.

Para contar a história, baseada no livro “Hard Sell: The Evolution of a Viagra Salesman”, o diretor Edward Zwick (de “Diamante de Sangue”) começa apresentando o protagonista, Jamie (Gyllenhaal), que nos anos 1990 trabalha em uma loja de eletrônicos e, com seu charme e beleza, tenta convencer as pessoas dos benefícios da câmera filmadora, do microsystem, entre outros lançamentos da época. Até que perde o emprego e busca uma recolocação como representante de medicamentos, já que é ali, segundo ele, que está o dinheiro.

A partir de então, ele vai ter de convencer os médicos a lhe atenderem para dar a oportunidade de mostrar os benefícios do medicamento da Pfizer, empresa para qual trabalha (e cujo merchandising é enorme, assim como da Novartis e outras gigantes do setor), e parar de receitar Prozac.

É aí, caro leitor, que a plateia do cinema vai conhecer o que é feito para o médico indicar determinado medicamento (em detrimento do concorrente ou de remédios manipulados). E vale tudo: conquistar a secretária, jogar as amostras do outro fora, pagar para o médico… Uma lista de “sujeiras” sem fim.

Mas tudo começa a mudar de rumo quando Jamie conhece Maggie (Anne), mais de 15 minutos depois do início do filme. É quando o longa-metragem muda o foco, de maneira que agora passa a ser o relacionamento dos dois, embora ambos prefiram não tratar como tal, mas como sexo casual, sem compromisso. Outra mudança radical é quando Jamie passa a vender o Viagra, medicamento que representa o que poderíamos chamar de “segunda revolução sexual” — depois da pílula anticoncepcional.

Do título do filme, aí está o amor. E as outras drogas, como o espectador poderá ver, são os remédios, mas também a maconha que Maggie fuma (provavelmente por conta da dor que sente), a bebida das festas, e o que mais pode-se chamar de droga, como as brigas com o concorrente, a patifaria…

Com uma química que funciona, os dois jovens atores (que concorreram ao Globo de Ouro, mas não ganharam) dão ritmo ao filme e prendem a atenção do espectador, em cenas quentes, mas sem ser vulgar. Junte-se a isso a trilha sonora, que tem Regina Spektor, Spin Doctors, Bob Dylan.

A sensibilidade do longa é reforçada pela doença da moça, mas o que só dá um ânimo a mais para ver qual será a atitude do rapaz. Sem ser piegas, mas com final de deixar os olhos cheios de lágrimas, “Amor e Outras Drogas” cumpre o que promete: ser uma comédia romântica com humor inteligente, jovem, além de escancarar críticas à indústria farmacêutica que, cá entre nós, continua faturando alto — sabe-se lá em quais condições.

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