Nem pense em assistir ao longa-metragem “Julie & Julia”, estreia desta sexta, 27, com o estômago vazio. Eu explico por quê. A fita é inspirada no livro de Julie Powell, uma americana que, sem saber o que fazer da vida (embora tivesse um cargo como secretária pública), resolveu escrever um blog (diário na internet) sobre culinária.
No entanto, não se trata de um blog qualquer. Com algum dote na arte de cozinhar, Julie se impôs um desafio: em 365 dias iria preparar 524 receitas que constam do livro de Julia Child, “Mastering the Art of French Cooking”, coescrito por Louise Bertholle e Simone Beck.
A obra foi escrita enquanto ela vivia na Europa, mas principalmente enquanto estudou na famosa escola francesa Cordon Bleu. E agora vem a parte da fome: durante 123 minutos, as personagens vividas por Amy Adams (“Dúvida“) e Meryl Streep (“O Diabo Veste Prada“) cozinham delícias de dar água na boca.
Casada com um diplomata, Julia (Meryl, sempre ótima!) vai viver em Paris em 1949. Sem falar uma palavra em francês, descobre que na capital francesa sua paixão é a comida – e não os cobiçados vestidos das famosas maisons. Depois de começar a fazer um curso de chapéus, decidiu que iria se especializar na cozinha francesa. Ou melhor: iria aprender a fazer as delícias e ensiná-las aos americanos.
Para intercalar as cenas, a diretora Nora Ephron (“Sintonia de Amor”), também autora do roteiro, mostra a vida de Julie, que se passa em 2002, justamente quando ela decidiu escrever o blog. Entre as idas e vindas no tempo, as lentes de Nora contrastam os processos, como viveu Julia e como Julie dialogava com a especialista na cozinha, como foi o progresso do blog que virou livro, que virou filme.
“Julie & Julia” fala de amor, convivência com as pessoas, paixão por gastronomia, sobre ter um projeto na vida. Meryl Streep é um destaque à parte, pois, mesmo que faça uma personagem caricata, cheia de trejeitos, caras e bocas, voz aguda e esganiçada, ela mantém o bom humor e mostra que é uma atriz completa.
Do outro lado, Julie está prestes a fazer 30 anos, se encontra em um turbilhão, sem saber o que fazer da vida, ao lado do marido, editor de uma revista – aliás, é ele quem sugere o blog. E quando começa a escrever o diário, prepara receitas difíceis e diferentes e diz que nunca havia comido ovo na vida – e provou a receita de oeufs pochés de Júlia. Outro detalhe que ela aponta para a cozinha é quando diz que, quando nada dá certo durante seu dia, chega em casa e faz um delicioso bolo de chocolate! A escritora faz o tipo mimada (que chora quando a receita não dá certo), mas é persistente.
Na parte gastronômica do filme, o espectador poderá conferir como se faz um verdadeiro boeuf bourguignon, como se cozinham lagostas e como se costuram patos. As duas ambientações, ou seja, a década de 1950 e o ano 2000, são bem posicionados com objetos das duas épocas, figurinos e locais, principalmente os automóveis em Paris, os bistrôs… Aproveite o filme, delicie-se com a direção intimista de Nora e bon appétit!