Memória Cinematográfica

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Meu Nome Não é Johnny

Estreia Nacional 4 janeiro 2008

Apenas ao final da projeção é possível compreender por que “Meu Nome Não é Johnny” é o título do longa-metragem protagonizado por Selton Mello. Baseado em livro homônimo de Guilherme Fiúza, lançado em 2004, o longa, que estréia nesta sexta-feira, dia 4 de janeiro, conta a história real de João Guilherme Estrella, um traficante de cocaína que vivia na zona sul do Rio de Janeiro.

O roteiro e a direção ficaram a cargo de Mauro Lima, que até então só tinha dirigido videoclipes e o infantil “Tainá 2”. Ele, no entanto, escreve de forma a dar vida e voz ao personagem de maneira singular e conta uma história ímpar com toques de bom humor e malandragem que, segundo o verdadeiro João, se parece muito com ele.

No começo do filme já se sabe o final: João Guilherme é preso. Sua mãe (Julia Lemmertz) e sua namorada Sofia (Cleo Pires) são convocadas a depor a respeito de sua prisão, mas é no decorrer da película que o espectador vai se envolvendo cada vez mais com o personagem principal e aprendendo um pouco sobre sua trajetória, já que o longa conta a sua vida desde a infância, quando começou a fumar baseado nas praias cariocas ao lado dos amigos, até se transformar em traficante de cocaína de nível internacional, indo a Veneza (Itália), e a Barcelona (Espanha) levar a droga.

João, que sofreu com a separação dos pais e passou a viver com o pai, que faleceu em decorrência de enfisema pulmonar, vendia a cocaína aos seus amigos em festinhas que ele mesmo patrocinava em seu apartamento e também para consumo próprio. O negócio dele, aliás, não era enriquecer com o tráfico, mas torrar tudo o que conseguia ganhar.

O elenco conta também com a participação de Eva Todor, que interpreta o papel de uma vovó caricata de Copacabana e vendedora de ambrosia. Um dos momentos mais bizarros da fita é quando se sabe exatamente o que ela faz para ganhar dinheiro e morar em um apartamento com vista para o mar.

Durante o tempo todo, embora a história seja um drama, Selton Mello desenvolve o seu personagem com bom-humor, faz a platéia rir e prestar atenção a cada virada de mesa. Seu jogo de cintura é utilizado de forma positiva nas mudanças de humor, em diálogos rápidos que são, aliás, características do ator em outras produções, em química que funciona com Cleo Pires e com os outros personagens com os quais Selton contracena. A interpretação da música de Roberto Carlos mostra que o ator tem talento.

“Meu Nome não é Johnny” é capaz de prender o espectador do início ao fim, pois conta a história de um traficante humanizado, onde não existe violência, nem tiros e sangue. Embora o longa esteja indo no vácuo do polêmico “Tropa de Elite”, um filme não tem nada a ver com o outro (o ponto em comum é que os dois tratam sobre drogas).

Enquanto o filme de José Padilha fala a respeito de policiais que invadem o morro em busca de traficantes, há tiros para todo lado, além de tortura, “Meu Nome não é Johnny” trata de um traficante, especificamente, que pertence à classe média carioca, fala inglês e, em vez de ser violentado pela polícia, segue para o manicômio em busca de cura. Também não pode ser comparado com o ótimo “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, que trata sobre o tráfico na favela sob o ponto de vista dos traficantes. Pano pra manga? Pode ser, mas sem dúvida uma lição e belíssimas imagens na tela grande.

 

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